Paulo Moreira 🇧🇷 reviewed O porco by William Hope Hodgson
Terror cósmico talvez melhor que Lovecraft?
5 stars
Primeiro conto que eu li de Hodgson. trazido pela editora Diário Macabro. De cara, a ciência misturada com rituais me encheu os olhos. Diferentemente de Lovecraft que demora demais escrevendo um parágrafo, cheio de adjetivos que parecem estar ali só para aumentar o ego do protagonista sabidão, os parágrafos de Hodgson são mais curtos, mais fáceis de imaginar, fazendo uso de coisas palpáveis como cores, luzes e símbolos, sem ter também o exagero de referências.
Carnacki, o protagonista do conto, mistura conhecimentos ocultos com instrumentos tecnológicos, como lâmpadas e fios elétricos de diversas cores, cada cor com uma especificidade mística. Achei isso tão bonito visualmente, numa HQ ficaria lindo, cada cor também nos fazendo entender aquele universo misterioso. Como costume do terror cósmico, as maiores ameaças são aquelas forças antigas, gigantescas, cósmicas, que sabe-se muito pouco e o que sabe-se é que são terríveis e não devem ser molestadas.
No …
Primeiro conto que eu li de Hodgson. trazido pela editora Diário Macabro. De cara, a ciência misturada com rituais me encheu os olhos. Diferentemente de Lovecraft que demora demais escrevendo um parágrafo, cheio de adjetivos que parecem estar ali só para aumentar o ego do protagonista sabidão, os parágrafos de Hodgson são mais curtos, mais fáceis de imaginar, fazendo uso de coisas palpáveis como cores, luzes e símbolos, sem ter também o exagero de referências.
Carnacki, o protagonista do conto, mistura conhecimentos ocultos com instrumentos tecnológicos, como lâmpadas e fios elétricos de diversas cores, cada cor com uma especificidade mística. Achei isso tão bonito visualmente, numa HQ ficaria lindo, cada cor também nos fazendo entender aquele universo misterioso. Como costume do terror cósmico, as maiores ameaças são aquelas forças antigas, gigantescas, cósmicas, que sabe-se muito pouco e o que sabe-se é que são terríveis e não devem ser molestadas.
No conto, essa força toma a forma de nada mais nada menos que um porco gigantesco (o título é esse, afinal). Seu poder macabro não reside apenas na força física, capaz de vencer até mesmo as barreiras místicas geradas por Carnacki, mas do estrago psicológico que sua presença é capaz de ocasionar, não restrita à típica loucura ou suicídio das obras de Lovecraft.
Carnacki explica a seus alunos, e consequentemente para nós, da existência de vários universos, três mais especificamente. Um deles é o psicológico ou mundo das sensações, daquilo que sentimos seja com o tato, a visão, o paladar, você me entendeu. A cartada é que esse mundo é perturbado pelas entidades cósmicas, algumas conseguem modelá-lo a seu bel prazer, como é o caso de O Porco. Ao se deparar com a entidade, Carnacki luta para não perder sua percepção de mundo, da noção do que é material, do que não é, de distâncias e até mesmo de tempo.
Sua alma pode ser morta.
Embora eu tenha mais elogios para O Porco do que para vários contos que li de Lovecraft, preciso destacar que a parte mais aterrorizante é a primeira devido ao desconhecimento que temos das regras daquele universo. Assim que os eventos sobrenaturais vão ocorrendo, Carnacki os explica e, mesmo as explicações sendo um pouco confusas, eu passei a compreender a magia e assim, não temer tanto assim a chegada do Porco. O suspense continua, veja bem, e ganha um clímax absurdo quando a magia de Carnacki falha, mas entender o que se passa tirou meu medo do desconhecido. Uma ironia. Por ser fácil de entender suas explicações, entendi seu mundo e não o temi, senti uma vibe de fantasia sombria. Mas Lovecraft, por ser difícil entender suas explicações (posso usar penoso de ler?) também me tira o terror ao me passar a sensação de que só está enchendo linguiça e adiando o clímax, não construindo-o.
Outro detalhe negativo foi a conclusão do embate, um deus ex machina que transformou a fantasia sombria em uma fantasia apenas... No entanto, é um deus ex machina justificável. A desvantagem de escrever histórias em primeira pessoa na estrutura de relato é que você sabe que o protagonista vai sobreviver. E, convenhamos, não tinha como Carnacki sobreviver sem um deus ex machina para livrá-lo. Ainda, é esse mesmo deus quem lhe fornece uma nova perspectiva de mundo, um novo método para o professor, não está só ali por não haver outra forma de conclusão, mas para modificar o protagonista. Eu só queria que o modificasse para o mal e não para o bem, mas tá ok.
A última parte do conto, pós clímax, é bem explicativa. É nela que conhecemos o universo de forma mais profunda e passamos a entender a capacidade de realizar estragos de O Porco. Não é enfadonha como Lovecraft, mas passa a vibe de protagonista sabidão. Tem gente que gosta, eu não curto, há gostos e gostos. Não posso dizer muito sobre ela.
Por fim, é um bom conto para se iniciar o terror cósmico se você quiser se afastar do lovecraftiano (eu considero terror lovecraftiano uma das formas de terror cósmico). Estão ali o medo do desconhecido antigo, entidades de poder absurdo que brincam com a mente humana e protagonistas inteligentes (se bem que não neuróticos) tão típicos desse gênero.
Tem outro lado bom: não ofendeu estrangeiros, nem Carnacki tinha medo de estrangeiros, pelo menos não nesse conto. E sim, esse é um ponto a se destacar. E pra não bancar o hater de Lovecraft, os monstros do xenofóbico são mais assustadores.